Sigo cabisbaixo pelas ruas do centro, são onze em ponto e todos os vagabundos estão apostos, prontos para dar o ar da graça, enfeitar as ruas, povoar os olhares mais cautelosos de pessoas ditas normais.
O centro é frio, escuro, quase deserto. Acendo um baseado/cigarro pra disfarçar o cansaço, me concentro ainda mais no caminho, acho que esqueci o caminho. O chão está molhado, os pés ficam gelados vejo uma banca e aproveito para comprar cigarros, indispensável numa cidade nova. Cigarros são a companhia quente, uma paz que mata, cigarro é amizade da morte, cigarro salva de enrascadas das noites centrais, dos dias menos normais. Os dias ficam cada vez mais escuros sem ter por perto, ouvindo poucas vozes durante o dia eu consigo me manter louco, falando pouco, ouvindo qualquer barulho que possa me distrair, a torneira pingando, o som que meus passos provocam, as portas abrindo e fechando, essa é a rotina de meus ouvidos. Chego em casa e o rádio ligado anuncia: Tangerine - Led Zeppelin, meu coração aperta de saudade, da mais bela moça que já encontrei, belos olhos que mudavam de cor com a quantidade de luz, verde, cinza e castanho, que estranho parecia lembrar dela como um grande amor, mas amores são eternos e enterro qualquer álcool dentro de mim, minha cabeça gira enquanto penso no que quero esquecer, no que posso escrever quando penso em ti. Seu rosto, seu beijo, seu abraço mais trágico e apertado nunca sairão de mim, eternos como uma mancha na parede, seu nome borrado com cuspe. Saudade coagula meu sangue, o tempo demora a passar, eu sinto que minha sorte pode mudar.